Centro Histórico de São Paulo
SPUD, o gin produzido num banheiro do Centro de SP
Considerada a primeira destilaria de gin da capital, o negócio é ambientado em um casarão dos anos 1920, na rua Nestor Pestana, no Centro

Um ano intenso como 2020 despertou mudanças de hábitos nos consumidores. Isolado em casa, o brasileiro precisou encontrar válvulas de escape para reduzir o estresse e, nesse processo, o consumo de bebidas alcoólicas cresceu. Foi nesse período que o gin se consolidou como a bebida da vez.
O crescimento das vendas, segundo especialistas, é impulsionado pelo próprio refinamento e variedade do destilado, além de novas garrafas que dão origem a coquetéis clássicos como Gin Tônica e Negroni. A Diageo, proprietária das marcas Johnnie Walker, Smirnoff, Tanqueray e Ypióca, mostrou que as vendas de bebidas alcoólicas no Brasil cresceram 33% só no segundo semestre de 2020.
Com a ascensão deste mercado, as produções nacionais começam a aparecer. Nick Johnston, escocês radicado no Brasil desde 2005, é um dos responsáveis pela produção do gin premium Jardim Botânico, elaborado na primeira destilaria da bebida de São Paulo, a SPUD – São Paulo Urban Distillery, ambientada num pequeno bar repleto de barris de cobre dentro do banheiro de um casarão dos anos 1920, projeto do arquiteto Adelardo Soares Caiuby, na rua Nestor Pestana, no Centro.
O casarão, por sua vez, já abriga desde 2015 o Drosophyla Bar, da empresária Lilian Malta Varela, e passou por um processo burocrático de restauro.
Foi ali que os cinco sócios, na maioria estrangeiros, que vivem em São Paulo há mais de dez anos, tiveram a ideia do SPUD.
Além de Nick, o grupo de sócios é formado por Isaac Sinclair, perfumista neozelandês, Philippe Roques, francês, também perfumista, Robert Adair, inglês, é homeopata e chef, e Lilian, a única brasileira.
Há quatro anos, sentados num dos sofás do Drosophyla, Nick e Isaac lamentavam a alta do dólar e o valor elevado do gin importado no Brasil, quando havia poucas opções nacionais de qualidade.
A inspiração veio de um negócio de Londres, a Spismith, que além de produzir a própria bebida, também funciona como bar.
Amigos e clientes do Drosophyla, a dupla cogitou a instalação no local, num estilo speakeasy sofisticado em um casarão histórico – formato de bares que surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 1990. O termo speakeasy era usado para identificar bares que secretamente vendiam bebidas alcoólicas durante a Lei Seca. Hoje, esse conceito foi reinventado e se tornou uma tendência.
Inusitada, a opção de espaço disponível deixa a SPUD ainda mais interessante. A destilaria foi montada dentro do banheiro do quarto principal na época em que o casarão ainda era uma residência.
São 50 metros quadrados, todo azulejado, que se revelou perfeito para o novo uso, com a instalação de um alambique de cobre feito à mão, com capacidade para produzir 60 litros de gin.

Desde a primeira conversa entre os amigos se passaram pouco mais de dois anos, período no qual o projeto foi sendo desenhado de forma artesanal e fornecedores foram prospectados para criar um produto exclusivo do começo ao fim, como a garrafa que lembra um vidro de perfume dos anos 1920, feita à mão.
O rótulo, impresso em alto relevo, traz elementos que homenageiam São Paulo, como o hexágono inspirado no Marco Zero da Praça da Sé e ícones arquitetônicos como o edifício Copan, a Catedral da Sé e o edifício Altino Arantes.
Quando tudo ficou pronto, e o espaço estava prestes a ser lançado no primeiro semestre do ano passado, o isolamento social e a quarentena impostos pela pandemia de covid-19 adiou o lançamento da SPUD, que aconteceu sete meses mais tarde, em outubro.
Decorado em estilo Art Déco, o bar tem capacidade para 18 lugares, mas no momento só pode abrigar oito de cada vez, para manter o distanciamento.
No espaço onde antigamente ficavam dois armários embutidos do quarto do casarão, as cabines foram preservadas e deram lugar a sofás de veludo. Mesas arredondadas e banquetas que cercam o extenso balcão de mármore com detalhes em metal dourado complementam o ar retrô.
HISTÓRIA DO GIN
Criado por monges holandeses, a bebida era a preferida dos operários ingleses desde o século 17. Destilado à base de cereais e de uma fruta azulada chamada zimbro, o gin virou coqueluche nos bares e supermercados brasileiros.
Surgido como bebida popular, para quem queria algo forte e de baixo custo, ele é hoje sinônimo de sofisticação e exclusividade.
No Brasil, a popularidade da bebida foi puxada por sua versatilidade e também pela facilidade de seu preparo, como em seu formato mais básico com tônica e gelo. O gin também é famoso por ser apresentado em garrafas elegantes que costumam decorar prateleiras de adegas, que até pouco tempo, só tinham as marcas vindas do exterior, como as britânicas Beefeater e Tanqueray. Agora, versões nacionais ganham respeito – Jardim Botânico é uma delas.
reportagem : Mariana Missiaggia