São Paulo, 10 de março de 2025 – A promessa era bonita: ônibus elétricos, modernos e silenciosos, cortando as ruas de São Paulo sem soltar fumaça, ajudando o meio ambiente e trazendo um transporte mais limpo para milhões de passageiros. A cidade comprou os veículos, as empresas de ônibus investiram, mas a realidade deu um choque: os ônibus estão parados, juntando poeira nas garagens. O motivo? A rede elétrica, responsabilidade da Enel, não está pronta para carregar tanta tecnologia. É o futuro batendo à porta, mas a estrutura das cidades brasileiras, ainda presa ao passado, não deixa entrar.
A prefeitura de São Paulo queria 2.600 ônibus elétricos rodando até o fim de 2024. Esses veículos, movidos a bateria, são uma aposta para reduzir a poluição – diferente dos ônibus a diesel, que soltam gases prejudiciais ao ar. Para bancar isso, conseguiram R$ 5,7 bilhões em empréstimos de bancos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que financia grandes projetos no Brasil). Só que, hoje, menos de 100 estão funcionando. O resto? Encostado, porque falta energia nas garagens.
O problema está na rede elétrica, ou melhor, na falta de preparação dela. A Enel, empresa que distribui energia na região, precisava instalar pontos de recarga – como se fossem “tomadas gigantes” para os ônibus. Mas isso exige obras grandes, como reforçar cabos e construir subestações (estruturas que controlam e distribuem eletricidade). Até agora, só quatro garagens têm essa estrutura, dando conta de apenas 50 ônibus. Para os outros milhares, nada feito. A Enel diz que já ofereceu soluções, mas cobra R$ 1,6 bilhão pelo serviço, um valor que ninguém quer pagar – nem as empresas de ônibus, nem a prefeitura.
Enquanto isso, as empresas de transporte, como a Mobibrasil, olham para os ônibus parados e reclamam: “Investimos, mas sem energia, não dá pra rodar”.
Alguns veículos estão encostados há quase um ano. A prefeitura aponta o dedo para a Enel, que devolve a crítica dizendo que depende de contratos e decisões que não chegam. No meio do fogo cruzado, o passageiro sofre com ônibus velhos, barulhentos e poluentes, enquanto o sonho elétrico vira frustração.
Esse choque entre o novo e o velho não é só de São Paulo. No Brasil, muitas cidades sonham com tecnologia de ponta – ônibus elétricos, trens modernos, energia limpa –, mas esbarram em estruturas defasadas. A rede elétrica paulistana, por exemplo, é antiga e não aguenta carregar tantos ônibus ao mesmo tempo sem risco de apagão nos bairros. É como querer usar um celular de última geração numa tomada frouxa que não segura a carga. Especialistas dizem: sem investimento pesado na base – fios, postes, subestações –, o futuro fica só no papel.
Para o passageiro comum, o impacto é direto. “A gente ouve falar de ônibus elétrico, mas continua espremido em lataria velha”, diz Maria Silva, moradora da zona sul. Enquanto cidades como Bogotá, na Colômbia, já têm centenas de elétricos rodando, São Paulo patina. O plano era ser exemplo na América Latina, mas, por enquanto, é mais um caso de boas ideias que não saem do chão.
A solução? Ninguém sabe ao certo. A Enel promete conversar com as empresas e a SPTrans (que gerencia o transporte na cidade), mas o dinheiro e o tempo correm contra. Até lá, os ônibus elétricos seguem como um símbolo caro do que poderia ser: tecnologia pronta para mudar vidas, parada por uma realidade que teima em não acompanhar o ritmo.